Chave Arcana

[Wicca][carousel][6]

O Universo Não Existe

01:22
Escrito por: Yule Travalon.
Contribuições: Thiago Souza.



Imagine uma criança de cinco anos que escuta todos os dias - ou pelo menos nos dias comerciais: "você não é capaz", "você é um inútil", "isso (insira aqui alguma atividade) não é para você", "você não precisa lutar, porque irá perder". Isso não está longe da sua realidade, certamente você ouviu algo semelhante - até mesmo recentemente. Mas e quanto a criança, como ouvir isso dez, quinze, vinte anos pode influenciá-la? Como as palavras repercutem em nossa vida? Como elas constroem nossa realidade?

Quando crianças, o universo não existe - inclusive nós mesmos. Tudo o que temos acesso é dado pelos nossos responsáveis (em meu caso, pai e mãe) que dizem tudo o que existe, tudo o que não existe, tudo o que devo e não devo fazer, como devo ou não me comportar, como devo ou não pensar. Tais ensinamentos são carregados de suas experiências, por muitas vezes, negativas, cheias de fracasso, amargura, choro e assim criamos antipatia, medo e receio de coisas que sequer pudemos experimentar. No princípio, nós somos o nu, e então, surge o verbo que canaliza esse nu.


Sabotagem & "verbo"


De que "universo" estamos falando? Certamente não o céu noturno onde observamos milhares de estrelas, ou as galáxias multicores, que conhecemos apenas por imagens de satélites. O universo aqui retratado é o seu universo interior e o universo sutil à sua volta (o universo das outras pessoas). Este universo foi condicionado a aprender, crer, saber, fazer coisas específicas de acordo com o julgamento de outras pessoas. E por muitas vezes, este mesmo universo te:

a) sabota b) faz querer estar morta c) faz sentir cansada da vida d) deprime e) deita na BR

Nossa mente é maravilhosa. Podemos acreditar facilmente que o barulho ali na cozinha foi um demônio (ou alien que veio de alguma encruzilhada do universo para te abduzir), mas às vezes não conseguimos conceber que somos capazes de conquistar aquela paquera, melhorar nossa mente ou crescer financeiramente. Estranho, né?

"Você jamais será um bom escritor" diz um homem ao seu filho, anos depois de remoer a vaga do concurso público que perdeu por falhar na redação. Como essas palavras repercutem em uma criança cujo maior exemplo e expectativa são aquele homem que dentro do seu universo físico quando criança (a casa, suponhamos) é uma espécie de "Deus"? "Jamais" + "será" + "escritor" = mensagem recebida com sucesso.

Foto: Art of Caroline Jamhour 

Autossabotagem & Liber DCCCXXXVII


O problema certamente se torna - em minha opinião - quando não são as pessoas ao seu redor que dizem "jamais" + "será" + "escritor", mas você mesmo. O seu universo é construído por você todos os dias e muitas coisas já estão tão sólidas quanto estruturas de um edifício. Um dos meus lemas é: "que as minhas convicções sólidas me edifiquem, que meu universo se renove e se expanda". Você e apenas você tem o poder decisivo de dizer ao mundo à sua volta quem você é, que energia quer ter, como desdobrará o seu futuro.

Mas constantemente, devido aos encontros e desencontros com outros universos, nos deprimimos, abaixamos a cabeça, repetimos incansavelmente que não somos capazes de sermos quem queremos ser e isso é um dos maiores crimes que você pode cometer contra si mesmo. A autossabotagem é um veneno que mata lentamente e dificulta seu crescimento (seja ele emocional, espiritual, etc). E por muitas vezes, a autossabotagem se faz em pequenas reclamações que fazemos rotineiramente, sem perceber - tome muito cuidado com isso!

Faça de todas as palavras que saem da sua boca, sagradas. Não profira contra si mesmo nenhum crime hediondo: "sou incapaz", "isso é impossível", "não valho a pena", "não sou bom o suficiente". Esqueça essas palavras! Você foi incapaz apenas naquela vez e naquela ocasião. Aquilo foi impossível naquele lugar e naquela hora. Você não valeu à pena diante de algo ou alguém que às vezes nem te merecia. Você não foi suficiente diante das expectativas dos outros, e afinal de contas, não há nenhuma obrigação de viver para satisfazê-las.

O que quero dizer é: tome as ações negativas na sua vida como exceção e não como regra.

Liberte-se, inclusive das amarras que você colocou em si mesmo e aceitou.
Liberte-se, inclusive de toda a dor que parece saudável, mas tem lhe subtraído.
Liberte-se, inclusive dos medos e desilusões que te fazem sentir fraco.
Liberdade é a lei.


Nós não nascemos prontos, mas nascemos equipados


Infelizmente - ou muito felizmente - não nascemos programados. Não nascemos sabendo o que nos fará feliz, quem nos decepcionará e qual caminho trará mais satisfação, mas você aprende com as pedras no caminho aquilo que não te traz nada disso, não acrescenta e não fortalece o seu universo.

Aceite de uma vez (que dói menos): você não nasceu pronto, você não tem obrigação de acertar sempre, você não tem obrigação de ser perfeito, você não tem obrigação de se encaixar. Você é um universo fantástico com todas as qualidades e defeitos que, veja só, te tornam único!

Felizmente - e muito felizmente por sinal -, nascemos equipados. Quer seja por amigos, livros ou nossos próprios instintos rangendo para que lutemos, a ajuda sempre vem. Ao redor do seu universo, existem muitos outros que entrarão em conflito, outros tentarão um contato amigável e dirão: "Eu vim em paz". Não deixe que as pessoas ou essas ajudas passem pela sua vida sem dar devida atenção a elas, às vezes, a ajuda está ao nosso lado e nos negamos para enxergá-la.

O que você não pode: passar pela vida só por passar.
O que você pode: viver intensamente, explorando todas as suas qualidades.

Por vezes você vai desejar usar uma metralhadora contra o que perdeu.
Por vezes você vai desejar agradecer aos céus pelo que tem.
Você só tem uma oportunidade. Isso vai ecoar pela sua eternidade.
Não se sinta pressionado!

Use todas as armas que tem em todas as oportunidades que surgirem.


O Triângulo de Salomão


Se você chegou até aqui, logo aviso que falaremos do que gosto de chamar de: magia aplicada.

3 E disse Deus: Haja luz; e houve luz.
- - Gênesis 1:3 (Bíblia Online).

O triângulo da manifestação carrega três impulsos que precisam estar conectados e bem direcionados: o pensamento, a fala e a ação. A junção dessas três armas poderosas, resulta na manifestação (no sistema goécio, por exemplo, na manifestação do demônio. E é claro que não é tão simples assim, apenas pegaremos o conceito e traremos para o que nos interessa nesse texto).

O Triângulo de Salomão contém três nomes curiosos: Anaphaxeton, Primeumaton e Tetragrammaton. Onde eles se encaixam em nossa novela de hoje?

Primeumaton é aqui o pensamento e como você idealiza determinadas estruturas através dele. Você cria o mundo através do seu pensamento, você antecede o mundo em sua cabeça. O que tem pensado sobre prosperidade? O que tem pensado sobre dinheiro? O que tem pensado sobre amor? O que tem sido priorizado em sua mente nesses últimos tempos?

Anaphaxeton é aqui a fala e como você dita/declara determinadas estruturas através dela. Você dita o que é e como é o seu mundo através da fala, você primeiro idealiza e depois proclama. O que você tem dito sobre prosperidade? O que tem falado sobre dinheiro? O que tem discutido sobre amor? O que tem priorizado em suas conversas ultimamente?

Tetragrammaton é como o nome sagrado de quatro letras, "eu sou o que sou", "eu causo o que venho a ser", ou seja, a ação. Como você age diante do mundo que pensou e ditou é a forma com que você o constrói. O que você tem feito a respeito da prosperidade? O que você tem feito a respeito do dinheiro? O que você tem feito para conseguir ou manter aquele amor? O que tem priorizado em suas ações?

Eis aqui a manifestação do seu universo. Aquilo que você pensou, aquilo que você proclamou, aquilo que você vive. Sendo que, aquilo que você vive, pode ser facilmente alterado conforme seus ideais e seus verbos mudem de frequência. Juntos, essas três ferramentas podem ser devastadoras e podem manifestar qualquer coisa que você deseja.

Olhe a sua vida, como ela está agora, só por um instante. Tudo isso o que você vive, foi o que por muitas vezes você pensou, falou e agiu na mesma frequência. Você manifestou o seu universo e não adianta reclamar, ninguém poderá lhe ajudar, a não ser você mesmo. Quer mudar o seu universo? Manifeste-o de outra forma, então.

Simples, ?

Mas não espere que as coisas se manifestem agora, imediatamente - a não ser que use magia a todo vapor, e ainda assim, haverá um período de espera. Você acha que uma criança que ouviu por quinze anos que é incapaz de ser escritor, começará a manifestar outro universo apenas com um mês de nova sintonia?

Bom, fica aí o desafio. Leve esse triângulo para a sua vida.

Pensamento + Fala + Ação = Manifestação.

No fim, ao voltar a Gênesis 1:3, você identifica as entrelinhas do texto: para dizer "haja luz", Deus teve de no mínimo, ter pensado na luz. Ter pensado em como ela era, o quão poderosa poderia ser, até onde poderia chegar. Munido disso, disse ele: "haja luz". O fato de dizer, também confere uma ação. E para a sua, a minha e a surpresa dele: houve luz. Curioso, né?

Agora encaixa tudo isso aí na tua vida e faz a equação decisiva do teu sucesso!


Os Elementos


O universo não existe, mas existem os elementos, ou seja, as peças do quebra-cabeças que usamos para montá-lo.

O universo, se você ainda não percebeu, é você. Os elementos, se você não assistiu Avatar, A Lenda de Aang, são: fogo, água, terra e ar. Esses elementos são os responsáveis por construir o universo e lhe dar forma, estrutura, identidade e dinâmica - é claro, com sua permissão, sua ajuda e seu direcionamento para manifestá-los.

Na magia, encaramos tudo com certa correspondência elemental: comidas, perfumes, incensos, cores, dias, horas, atividades, etc. O ponto aqui, é que você descubra o que te falta - e esse exercício não é tão fácil, às vezes você precisará da ajuda de um oráculo, ou precisará meditar bastante sobre sua situação para compreender qual elemento se encaixa.

Lembra que 'nascemos equipados'? Todos nós temos identificação ou aproximação com um elemento ou outro e precisamos cuidar disso, mas lá no fundo, conseguimos usufruir de todos eles. A priori, seu objetivo não é abrir o mar vermelho no meio, andar pelo fogo, tirar o ar das pessoas ou fazer tudo virar ouro - mas tenha isso como meta. Agora você precisará tratar de assuntos mais importantes: resolver os seus problemas.

E como os elementos podem ajudá-lo nisso?

O fogo é a ação, o impulso, a dinâmica, a agilidade, rapidez, intuição, proteção, iluminação.
A água é o envolvimento, a profundidade, o sentimento, relacionamentos, a calmaria, a empatia, a vida, saúde.
O ar é o intelecto, o aprendizado, conhecimento, criatividade, negociação, empreendedorismo.
A terra é a conservação, os bens materiais, tudo o que é físico, a comida, o trabalho, a família, 

Esses são apenas alguns aspectos dos elementos e onde você pode direcionar a energia deles para a construção do seu universo (e em breve irei rechear o blog com dicas e demonstrações práticas de como trazer esses elementos para a sua vida, seja através de meditações, feitiços ou simples pensamentos afirmativos). 

Nas palavras de Aleister Crowley: "Todo homem e toda mulher é uma estrela". Aceite: você nasceu para brilhar, ser visto, ser amado, ser notado. E depois desse texto, espero que você se sinta muito mais do que uma estrela: você é um universo.

Você tem totais poderes sobre seu futuro: você o cria agora, nesse instante. O seu universo não está pré-estabelecido e definido por completo, ele pode mudar, contanto que você mude a sua frequência. No fim, você é a melhor arma para evoluir - e no fim, a pior arma também, porque você pode impedir seu maravilhoso desenvolvimento, castrando-se.

Lembre-se: o universo não existe... Quero dizer, não existia até agora a pouco.

Comece a criá-lo!

Curso de Tarot

01:17


Tarot é um oráculo antigo, mas manter-se atualizado sobre interpretação, leitura de símbolos e compreensões ocultistas dentro dessa ferramenta magnífica, aprimora sua prática. Não há segredo: você precisa estudar, praticar e manter-se equipado de métodos acessíveis para crescer. Esse Curso de Tarot, chega a sua terceira edição online e abre novas vagas.  

Esse curso introdutório lhe fornecerá instrumentalização dos Arcanos Maiores e Menores do Tarot, ligações entre hermetismo, astrologia, magia e Tarot. É também uma oportunidade para o autoconhecimento, discussões sobre ocultismo, evolução espiritual e o momento decisivo para acabar com a sua autossabotagem.

As aulas ocorrem por Hangouts do Google e depois os vídeos ficam disponíveis para o aluno no Youtube um mês após o fim do curso. 

Acaso você não tenha tempo para assistir as aulas ao vivo, TODAS AS AULAS já estão gravadas para que você tenha acesso imediato e assista quando e onde quiser.

Início: Fevereiro
Investimento: R$ 70 por mês / 3 meses.
1 aula por semana*
7 vagas abertas para a turma de fevereiro. Matricule-se já e não perca a oportunidade!

Tópicos abordados no curso:

Parte 1: A Grande Jornada: Arcanos Maiores
- Filosofia, iconografia e história.
- Simbologia & arquétipos.
- As Jornadas do louco, do herói e como o tarot se manifesta em nossa vida.
- Significado & significante.

Parte 2: Vivência & Funcionamento
- Aula prática.
- Hermetismo & Tarot.
- Egrégora, consagração e práticas.
- Arcanos de Paus.

Parte 3: Os Detalhes da Jornada: Arcanos Menores
Arcanos de Copas
- Arcanos de Espadas
- Arcanos de Ouros
- Aula prática.




* Ocorre sempre uma aula teórico/instrumental toda semana. Mas eu me coloco a disposição para orientações práticas desde a primeira semana, onde podemos trabalhar as suas dificuldades específicas de aprendizado e prática com o oráculo. Acaso você traga um tema para a orientação, como por exemplo "Vamos praticar dando enfoque nos Arcanos de Espadas", faremos isso. Caso não tenha uma preocupação específica, podemos fazer meditação com cartas específicas, fazer jogadas clássicas ou até mesmo trabalhar algum feitiço com as cartas.



Informe-se e inscreva-se:
yuletravalon@gmail.com ou pelo Facebook



Depoimentos de ex e atuais alunos


"O curso não aborda só os aspectos positivos e negativos dos arcanos, não é mais do mesmo. As técnicas didáticas e referências usadas pela Yule, não se encontram em lugar nenhum dessa internet. Arcano por arcano, vemos referências históricas, astrológicas, herméticas, filosóficas, simbólicas, psicológicas e enfim, até cristianismo entra no pacote. As aulas são dinâmicas, leves, sobretudo divertidas, de maneira que se passam 3 horas e você quer mais. Quando eu comecei esse curso, meus conhecimentos sobre o tarô eram o equivalente à zero. Se hoje, modéstia a parte, eu tenho uma boa leitura é graças à esse curso" (Lucas Bernardes).

"Manas, com Yule Travalon é babado é certo! hahahaha brincadeiras a parte, o curso é muito mais profundo do que eu achei que seria, amadureci muita coisa em mim através dos conhecimentos de vossa queridíssima sacer, vem que é fe-xas-saum. E diga-se também de passagem que aprendi a pensar como um tarólogo, pois o tarô pode iluminar os caminhos, assim como a compreensão moral de quem o estuda" (Wesllei Cioca).

"Bom, falar da sua aula não é tão simples como pensei, pois como falar em tão breve e sutis palavras a realização de VERDADEIRAMENTE, estudar Tarô? Pois já havia passado por outros prováveis cursos, mas NUNCA passei a aula teste, sempre vazia e mecânica. Nas suas aulas Querida Yule, Revi Magia, mitos, verdade tão reais e vividas que havia  Me esquecido e as desprezado. Nas suas aulas reli um bom percurso percorrido, e relembrei grandes Mestres, cujo quais Eu não estava pronta pro aprendizado que eles passaram. Então aos que vierem digo pra que entendam que estudar tarô com a Yule é apenas um nome fantasia. Pois o curso dela vai Te levar pra dentro dos seus labirintos e lá reencontra ou encontrará a magia e seus Mestres" (Mell Eva Padilha).

RESENHA: How Big, How Blue, How Beautiful - Florence and the Machine

16:08
Cover do álbum 'How Big How Blue How Beautiful' com modificações.


A virginiana Florence Welch e sua máquina estão de álbum novo!

'How big, How blue, How beautiful' o terceiro álbum de estúdio da banda, sucessor de 'Ceremonials' (2011) e 'Lungs' (2009), foi lançado no dia 02 de junho de 2015.

Dedilhar a alma com uma guitarra e cantar seus gritos interiores com potência, fazem parte da obra de Florence + The Machine que felizmente se repetem nesse excitante álbum, que te transporta para lugares formidáveis, soturnos e assustadores, que estão dentro de você. Nessa postagem apontarei o meu olhar sobre a proposta do álbum e comentarei as músicas de 'How Big'.

"Uma crente ruiva maluca cantando e dançando com os navi do avatar" foi a primeira coisa que eu disse sobre Florence and The Machine em ocasião de seu clipe 'Dog Days Are Over'. A primeira impressão deixada por Florence na letra, acordes e voz, me marcaram profundamente. Florence possui uma voz potente para letras que abrem as jaulas da alma, e que me fizeram despertar para o talento da inglesa e sua banda em 2010.

'Lungs' foi uma grata surpresa e 'Ceremonials' foi um delírio permanente, mas 'How Big' desnuda a alma. Cheguei a brincar com o Hekator (da Bruxaria Hipster) que 'Lungs' me remete ao caminho da wicca: um grito, coroa de flores, danças na floresta e a descoberta de um mundo mágico. 'Ceremonials' aprofunda essa magia dentro do círculo mágico, da tradição, da bruxaria tradicional, de um caminho na mão esquerda: lide com a escuridão, balance seus demônios, sinta o reino que há em nós. Mas 'How Big' é o caminho da bruxa solitária, é o momento de encarar-se no espelho, olhar para dentro de si, refletir sobre todos os seus silêncios e dar voz a quem você é em toda a sua verdade.

Por isso o álbum mexeu comigo, mais do que o esperado. 'How Big' é um passeio sobre o que há dentro da sua alma e você joga para escanteio. Enfim! Naufrague em si, ganhe a batalha, mas perca seu filho, perceba que há um buraco em seu coração mentiroso e ore muito por uma causa perdida, seja bem vindo a 'Como é grande, como é azul, como é bonito' (e não estamos falando do rabo de um navi). Quando terminei de ouvir o álbum, precisei dizer em voz alta: "sim, nós somos o reino (Malkuth), mas que reino problemático nós somos, hein Flo"? Para além dos singles já conhecidos ("What Kind of Man", "St. Jude", "Ship to Wreck" e "Delilah"), existem outras pepitas de ouro no álbum!

Descubra a bruxa solitária que há em você e vasculhe os silêncios da sua alma em meu review de 'HBHBHB':



Ship To Wreck - Florence começa o álbum chutando a porta, sacudindo a casa e delirando com muito gardenal - ou falta dele -, para o nosso deleite. A mulher está a 150 km por hora! 'Eu construí esse barco para ele naufragar'? Ela questiona, no refrão. A música e o clipe tem uma sintonia perfeita em expor sua depressão, alterações de humor, dislexia e dispraxia. Florence parece lutar contra si mesma, ao olhar tudo o que conquistou. Será tudo isso suficiente? Ela deixará que as correntes a levem para longe de si? O barco irá naufragar? A música acende um fogo imediato, enquanto no clipe Florence explode em sua total verdade interior e luta contra as outras Florences que existem dentro de si.
P.S.: só eu que adoro na parte do clipe (1:15 em diante) que ela rola com o boy na cama e mete a buzanfa na cara dele? A.d.o.r.o!
Música para: ficar balançando o barco do Caronte até ele virar (fazer isso depois da morte).  
Arcanos: O louco, o mago, a sacerdotisa.
De 0 a 5, quantos despachos a música merece? 5.

What Kind of Man - Uma das minhas favoritas do álbum e eu levei um tempo para absorvê-la. Na capa do single, Florence apresenta os símbolos do ar acima do símbolo da água. O que isso quer dizer? Então fui ouvir a música e tentar entender trecho por trecho. 'Os meus pés não tocam o chão. Às vezes você está meio dentro, meio fora... mas nunca fecha a porta' e 'Mas eu não consigo te derrotar, pois continuo com você'. Afinal de contas, Que tipo de homem ama assim? Ar aqui é controle mental e água é o sentimento que Florence tem por esse homem. Há ausência de terra (concretização) e fogo (consumação). É o tipo de relacionamento destrutivo que promete e não cumpre, que ilude com as palavras e peca em ações, que há excesso de palavras (ar) e juras (água), quando não se manifesta nem por desejo (fogo) nem por demonstrações (terra). E após perceber isso, lembrei que já me apaixonei perdidamente por alguém assim. Como esses tipos de homem conseguem, hein? Metáforas e analogias fantásticas, dona Flo.
Música para: dançar loucamente com as pombas-giras após quebrar uma amarração.
Arcanos: A sacerdotisa, o imperador, os enamorados, a força.
De 0 a 5, quantos despachos a música merece? 5.




How Big, How Blue, How Beautiful - Quando abrimos as janelas de uma sala escura, a luz a invade com violência. Tudo se torna mais claro, mais nítido, ganha cores e detalhes. Inclusive, se há um jacaré ou uma serpente dentro da sala, e você não os tenha visto antes, agora é o momento. A escuridão não te protege deles, mas os oculta. E infelizmente, achamos que quando algo está escondido de nós, estamos protegidos. A música que dá nome ao álbum, 'How Big', fala sobre abrir as janelas e olhar para fora: tudo é maior, tudo é mais azul, tudo é mais bonito. Quanto mais você aprender, observar e expandir, mais crescerá. Quanto mais aprende sobre você, suas dores, temores e amores, mais saberá também sobre a vida, o universo e tudo mais. Afinal de contas, dentro de nós é grande, azul e bonito... E fora também!
Música para: viagem astral junto da exploradora Dora Aventureira.
Arcanos: O hierofante, a sacerdotisa, a justiça.
De 0 a 5, quantos despachos a música merece? 4.5
P.S.: O toque dos trompetes/trombetas/os anjos de jeová no final, só arrepiam a minha alma? C.a.r.a.l.h.o! Parece arrebatamento! Vem e leva as bruxa tudo contigo Flo <3 p="">

Queen of Peace - Lembra-se do homem que controla pelo ar e pela água? Aqui ele foi momentaneamente superado. Florence 'venceu a batalha' mas 'perdeu o seu único filho', ou seja, ela enfim soube dar um ponto final a aquela amor destrutivo, mas os rastros dele a perseguem e a tomam aqui, pela lembranças. De que vale, afinal, ganhar a batalha e perder o seu bem mais precioso? A música canta superação, renovação e renascimento. Florence descobre que algumas coisas nunca dormem, as dores de não possuir mais o que tinha (pela metade) vem com força, mas ela supera, dissolve, sente isso correr pelo sangue e somente encarando essa profunda dor ela pode encontrar a paz. Afinal, como encontrar a paz fugindo dos olhos vorazes da guerra? Como não encontrar a paz após ficar louco de tanto sofrer e perceber que as dores vivem em nossa pele? Não adianta fugir das dores, elas te perseguirão. Aprenda a viver com elas, como tatuagem. Quando ouvi essa música pela primeira vez, enquanto estou na rua e agora, dá vontade de tirar a roupa e sair correndo para o mais longe possível de todos e o mais perto de mim.
Música para: Dançar pelado com o capiroto na floresta.
Arcanos: Imperatriz, a morte, o julgamento.
De 0 a 5, quantos despachos a música merece? 1000. Fechar as encruzilhadas do Brasil tudo.
P.S.: Vocês não adoram como a música começa parecendo cântico de testemunha de jeová e depois toca como se fosse pra baixar o santo? Adoro.
P.S.2: Já viram esse live de Queen of Peace onde uma Pomba Gira recebe a Florence? ...Não pera.
P.S.3: Chamei belzi esse último final de semana com essa trilha sonora e ele aprovou.
PS4: Tá caro.



Various Storms & Saints - Ao confrontar suas dores e aceitar a realidade, Florence vê e aprende uma das habilidades mágicas essenciais: o perdão. Esse poder mágico pode libertá-la e fazê-la sentir tudo o que há de mais profundo dentro de si. 'Algumas coisas você deixa ir para poder viver' ela canta. Algumas coisas ocorrem sem que possamos manter o controle, algumas coisas ocorrem sem que esperemos, algumas coisas fogem da realidade, algumas vezes essas coisas ocorrem juntas. Essa música é cheia de trechos relevantes, se pudesse, tatuaria ela por completo em minha pele. 'E as pessoas simplesmente desatam a si mesmas, desenrolando destinos', uma hora precisaremos aprender que não podemos controlar o destino das pessoas. Por mais que tenhamos planos, ideais e vidas em conjunto, as pessoas seguem o rumo que acham verdadeiro. E não devemos nos martirizar por súbitos términos, desgraçadas imprevisíveis, situações que fogem de nosso controle, o ideal seria 'simplesmente perdoar a si mesmo'. Enfim, essa música é profunda e é a minha favorita do álbum. Se para Cazuza cada mergulho é um flash, nessa música, cada trecho é um álbum de fotografias inteiro.
Música para: Ficar na fossa com Dantalion ou ficar reflexivo com Astaroth.
Arcanos: O Ermitão, a torre, a lua.
De 0 a 5, quantos despachos a música merece? 666.


Delilah - Saber, ousar, querer e calar. Agora que Florence cantou sobre o autoconhecimento, as dores, seus desejos e sentidos, ela precisa descobrir seus poderes de Sansão e utilizá-los da forma correta, inclusive calá-los, escondê-los. Dalila é 'um tipo diferente de perigo' e de liberdade. Às vezes você não sabe o quão é forte, a não ser que lhe deem uma espada e lhe coloquem no centro da luta. Ainda assim, não seja tão forte, afinal, Sansão matou 1000 inimigos ao derrubar as colunas do templo de Dagon, mas também matou sua amada e traidora Dalila e perdeu sua própria vida. Tudo em busca do amor, da liberdade e de sentir na pele seus poderes. O que é mais poderoso e libertador do que a morte?
Música para: acertar o pacto com o demonho.
Arcanos: O diabo, a estrela. 
De 0 a 5, quantos despachos a música merece? 4.5




Long & Lost - Após a jornada, todos nós (incluindo Bilbo e Frodo) precisamos retornar para casa. Mas quando é a hora certa de voltar? O que encontraremos após tanto tempo fora? Será que o mundo para quando não estamos olhando e só corre quando podemos ver? Eu particularmente achei a música e a letra bem cruas ou talvez ela tenha sido objetiva e direta demais. De toda sorte, eu tenho essa sensação de 'tanto tempo perdida'. Com que frequência? Todo tempo.
Música para: se sentir emo gótica reptiliana.
Arcanos: O enforcado, o ermitão.
De 0 a 5, quantos despachos a música merece? 3.5. 

Caught - Aqui Florence se encontra diante de uma nova situação, algo inédito. Um novo amor, uma nova amarração, diarreia na casa do namorado e vergonha de usar o vaso? Brincadeiras a parte, essa música remete muito a primeira vez, ficar travado, ter um roteiro em sua cabeça, mas não saber como agir, tipo quando você chama o capeta, ele aparece e você não sabe mais o que fazer a não ser dizer: sai daqui em nome de jê carpinter! (brinks). Florence sabe que falta algo importante (a prática que sucede o estudo? O beijo que sucede o flerte?) e o próximo passo é a consumação. Mas ela está travada, diante as portas do templo para sua iniciação e confirmar seus compromissos.
Música para: chamar o demonho pela primeira vez. Chamar Bob Marley uh uh uh uh ah ah.
Arcanos: A sacerdotisa, a temperança, a lua. 
De 0 a 5, quantos despachos a música merece? 4.




Third Eye - Qual a linha original com que a vida é tecida? Raramente podemos vê-la com os olhos profanos e mundanos. Escondemos, tapamos e nos envergonhamos dos nossos pecados e assim tentamos imitar a uma ideia de perfeição que foge do padrão humano. 'Você é carne e sangue! E você merece ser amado, merece ser o que é' não adianta fingir, dissimular, esconder: nós somos aquilo que somos e não podemos negar. E apenas nosso terceiro olho consegue ver que a vida, e tudo o que existe é um círculo: sem fim, sem começo, um eterno ciclo. Nós somos os mesmos, e acreditamos que a mudança é fundamental para nos tornamos melhor. E Florence consegue sintetizar boa parte dos capítulos anteriores dessa bíblia grande, azul e bonita aqui: 'A única coisa que você deixou te segurar, vista isso agora em seu manto, sempre ali para te lembrar' e 'tem um buraco onde seu coração mente'. Na dúvida, sempre siga seu coração. Na dúvida, encontre as respostas dentro de você. Na dúvida, abrace seus erros, suas dores e suas angústias e cresça, observando-as não pelos seus olhos profanos, mas pelo seu terceiro olho. 'Eu sou o mesmo, eu sou o mesmo... estou tentando mudar'.
Música para: abrir o terceiro olho de alguém ( ͡° ͜ʖ ͡°)
Arcanos: O mago, a temperança. 
De 0 a 5, quantos despachos a música merece? 4.5

St Jude - Cada um sabe o peso da cruz que precisa carregar, assim como sabe a quem recorrer quando as coisas apertam. Aqui, é como se Florence olhasse para trás uma última vez. Quais pesos ela precisou carregar? Onde ela esteve como o enforcado do tarot? O que ela aprendeu? 'Talvez eu me sinta mais confortável no caos' Florence percebe, ao aprender sobre o amor não correspondido, seus poderes ocultos, sua queda e suas brigas interiores (depressão, dislexia...). Mas o vídeo da música, em especial, me remete a algo antes do arrebatamento. Florence olha toda sua trajetória, todos os caminhos, e inclusive, após escrever esse review, pensei justamente naquele cara do amor não correspondido. Ela percebe que ela mesma foi a cruz dele, ele precisou carregá-la, foi o sofrimento dele durante três momentos ('What Kind of Man', 'Various Storms and Saints' e 'Long & Lost', julgo eu). E ao deparar-se com essa nova realidade nua e crua (ou qualquer outra realidade que a desperte ao mundo real), incluindo o encontro com o ermitão do vídeo, Florence finalmente percebe que aquela situação precisa ser interrompida. Ela sai da estrada, onde no futuro, em sua frente, o mesmo homem continua a carregá-la. Agora ela vai para a natureza, encarar sua causa impossível e encontrar-se com sua última verdade irremediável. Grande, azul e bonita: a grande mãe. Agora ela está pronta para renascer de verdade.
Música para: perceber que é hotária.
Arcanos: A sacerdotisa, a roda do fortuna, o julgamento.
De 0 a 5, quantos despachos a música merece? 4.5




Mother - O vídeo de St. Jude termina com Florence ajoelhada na grama. E no início de Mother ela deixa bem claro: 'eu pertenço ao chão agora e não quero mais do que isso'. Às vezes nossos desejos e nosso ego nos cegam e não percebemos o que é desejo do que é necessidade. Após passar por sua própria Odisseia, Flo está mais do que preparada para saber qual sua real necessidade: 'faça-me uma árvore alta e grande, para que eu possa lançar minhas folhas e deixá-la explodir através de mim', 'faça-me uma grande nuvem cinza, para que eu possa chover em você e nas coisas que eu não posso falar em voz alta', 'faça-me uma ave de rapina, então eu superarei isso e deixarei cair', 'faça-me uma música tão doce, que faça o céu tremer e cair aos pés'. A felicidade de Florence nunca esteve em seu desejo cego ou em suas buscas que apenas naufragaram, lá no início. Agora ela entende que faz parte do todo, de você, da natureza, do universo, do amor, do ódio, da indiferença, da cruz que foi carregada. Ao melhor modo filosófico, uma árvore que ouse tocar os céus, precisa ter raízes tão profundas quanto o inferno. Bem, Florence conseguiu ir até o inferno. E agora, ela e o sofrimento são um só. Assim como ela e a felicidade. E no fim, de joelhos no chão, ela percebe que tudo o que existe pertence à uma grande mãe. E que essa mãe, assim como o sofrimento e a felicidade, são um só. Ela.
Música para: brisar.
Arcanos: O louco, o sol, o mundo.
De 0 a 5, quantos despachos a música merece? 10.

Ah, Florence. Como é grande... como é azul... como é bonito!

Como é grande... como é azul... como é... não, pera.

O que é a Bruxaria?

15:52
Fest der faune und Nymphen de Moritz Stifter


Diariamente na página Bruxaria Hipster, recebemos perguntas como: "o que é magia? Como me iniciar? O que ler? Qual o melhor caminho"? Pensei em escrever um post sobre isso, mas então tive uma ideia melhor: 'entrevistei' cinco bruxos experientes que estimo muito, para que  respondessem algumas questões e pedi autorização para colocar aqui no blog. Os nomes deles estarão entre parenteses em cada resposta, junto com o link para suas páginas/blogs.



- O que é a bruxaria?


(Odir / Sono de Endimião): Historicamente falando, a Bruxaria pode ser definida como um conjunto de crenças e práticas que sempre estiveram à margem das religiões “oficiais”. A bruxa foi a desvirtuadora, a transgressora, a adaptadora. Ela sempre trabalhou com as ferramentas que tinha às mãos, para além da ortodoxia religiosa vigente. Vejamos o caso que nos é mais familiar: a benzedeira católica. A benzedeira, mesmo considerando-se católica, desvirtua a prática oficial da Igreja. Seu ofício é curar e transformar – e algumas vezes amaldiçoar – e faz isso sem recorrer ao sacerdote “oficial” da religião vigente: o padre. Ela sincretiza em seu ofício cristianismo e paganismo, e muitas vezes alcança aquilo que o sacerdote não consegue acessar pelas vias comumente aceitas. Essa figura emblemática pode ser encontrada (na sua pluralidade de formas) em praticamente todas as sociedades ao longo da história. Onde houver uma doutrina “oficial” que realiza seu ofício à luz do dia, haverá também as bruxas que, na calada da noite, encontram-se para desvirtuar essas crenças e práticas “autorizadas”. É por isso que as bruxas são tradicionalmente associadas à noite, à lua, à escuridão, às divindades ctônicas (do Submundo), etc. 

Acontece que nos anos 50, a bruxaria “institucionalizou-se” através da religião Wicca. Gerald Gardner achou que a bruxaria era uma religião que estava fragmentando-se e precisava ser “restaurada” e foi assim que ele construiu a Wicca. No entanto, de forma paralela (e de certa forma oposta), temos a figura de Robert Cochrane que, contemporâneo de Gardner, achava que a bruxaria não era uma religião, mas sim uma tradição filosófica ou gnoseológica que perpassava todas as religiões.

Mas tentando responder a sua pergunta formulando um conceito, eu diria que hoje, a bruxaria pode ser tanto uma coisa quanto outra: pode ser uma forma de religião, de religiosidade ou de espiritualidade que visa colocar o indivíduo em sincronia com a natureza e e com os seus Ancestrais através de práticas mágicas.

(Maurício Melo / Conclave Rosa dos Ventos): A bruxaria é um conjunto de práticas que rege a transformação, o ofício dos que são dotados da irreverência e da sensibilidade. Um bruxo não se define, pois isso o limitaria. A Arte Sábia é viva, fluída, mutável e atemporal em sua essência.

(Dinho Oliveira / Círculo das Bruxas): Uma ciência, uma arte e uma religião.

(Cazmilian Zórdic / Heremiticam): Bruxaria/Magia pra mim é uma ciência. Ela se reconstrói, se adapta... vamos dizer que é a ciência de mudar a Realidade e não há nada de fantasioso nessa ciência.


 

- Qual a melhor forma de conhecê-la?


(Odir / Sono de Endimião): Primeiramente através do estudo (teoria). E depois disso, obviamente, através da prática. Acho sempre importante estar sempre dispostx a aprender, a conhecer e a experimentar diferentes coisas. Você encontrará bruxos dos mais variados tipos, de inclinações políticas e filosóficas e de estilos de vida. O segredo é sempre estar disponível para aprender sobre esses diversos caminhos, sem apegar-se a preconceitos que limitem esse aprendizado. Fora isso, tudo é uma questão de sempre estar abastecido de velas e incensos e livros (não necessariamente nessa ordem): a bruxaria é uma Jornada que não tem fim, pois é uma estrada em formato de círculo. O Mistério é que, apesar de sempre voltar ao ponto de partida, você nunca volta da mesma forma.

(Maurício Melo / Conclave Rosa dos Ventos): Não creio que haja uma forma melhor ou pior, a Arte Sábia toca de forma diferente o âmago de cada um. Sempre na hora certa, no local exato e de um jeito único.


(Dinho Oliveira / Círculo das Bruxas): Comece se conhecendo. As outras portas irão se abrindo conforme for necessário.

(Cazmilian Zórdic / Heremiticam): Existindo. Cada vida por si só ja é derivada de Magia, uma vez que o Hermetismo que sigo considera todo ser vivo como parte de Deus, apenas individualizado momentaneamente pra entender a si mesmo e evoluir. Então, o principal todo mundo ja fez. O resto é estudo e treino, MUITO TREINO.




- Quais os livros mais indicados?


(Odir / Sono de Endimião): Olha, existe muita coisa por aí, mas eu sempre gosto de indicar, pra quem está começando, o livro do ex-bruxo-atual-evangélico (sic!) Millennium, Wicca: A Bruxaria saindo das Sombras porque foge do lugar-comum de vários livros de Wicca de autores “populares” do Brasil. Nesse caminho gosto também de A Feitiçaria: A Tradição Renovada de Doreen Valiente e Evan John Jones por mostrar algo um pouquinho (mas não muito) diferente da Wicca. Quem estiver interessado em aprofundar-se mais, eu indico também o Artes da Noite: Uma História da Prática da Bruxaria do Nicholaj de Mattos Frisvold que é uma leitura um pouco mais avançada, e por isso, bastante densa. Esses dois primeiros têm disponível em pdf na biblioteca do meu blog.

(Maurício Melo / Conclave Rosa dos Ventos): Artes da Noite de Nicholaj de Mattos Frisvold, O Chamado dos Velhos Deuses de Nigel Jackson, Magia Natural de Scott Cunningham, Desvendando a Arte dos Feitiços de Gerina Dunwich e Três Livros de Filosofia Oculta do Agrippa.


(Dinho Oliveira / Círculo das Bruxas): Para quem está começando, sem sombra de dúvida A Bruxa Solitária, da Rae Beth e O Poder da Bruxa, da Laurie Cabot. Outros dois bem bacanas são O templo interior da bruxaria, do Christopher Penczack (tem uma coleção ótima) e Bruxaria, Teoria e Prática, da Ly de Angeles, ambos são excelentes guias de treinamento.


(Cazmilian Zórdic / Heremiticam): Sem dúvida nenhuma, Toda a obra de Franz Bardon, além de outros como Dogma e Ritual de Alta Magia (do Eliphas Levi, chatinho de ler mas bem interessante) e obras de suposta fantasia que guardam muitas verdades nelas, como as obras de Tolkien. 





- Você poderia dar uma dica para quem está chegando nesse caminho agora?


(Odir / Sono de Endimião): O instinto natural de toda pessoa que está começando a estudar é juntar-se a um Coven, a um Círculo, a um grupo qualquer. E essa necessidade pode ter por base o simples desejo de “ser aceito”, mas com o tempo, essa busca incessante por grupos, Ordens e Tradições de todos os tipos podem se transformar em uma sede de querer aparecer e de prestar contas para a comunidade mostrando “currículo” de formações e de iniciações acumuladas. Eu sempre desencorajo esse desejo entre o pessoal que está chegando, acho isso muito prejudicial. Acho que o começo da jornada espiritual de alguém na Bruxaria deve ser, como disse acima, uma época de experimentar, de conhecer, de desbravar, de aprender e de descobrir. Filiar-se a Ordens ou Covens é algo legal (eu mesmo tenho um Coven), mas acho que isso não deve ser um fim em si do Caminho. Filiar-se a uma Tradição não deve ser um objetivo a ser alcançado, essas coisas devem ser consequência natural do processo. Fuja dos “Mestres” de facebook, fuja daqueles que estão sempre nos holofotes da mídia, dos que ostentam “currículo” e – principalmente – não tome partido nos barracos virtuais e nas fofocas de grupos A, B ou C. Isso é desperdício de energia. Converse com TODAS essas pessoas, questione e pergunte, mas sempre com humildade e não tome nenhuma delas como senhorxs absolutos da verdade. Até mesmo porque verdades absolutas não existem. 

(Maurício Melo / Conclave Rosa dos Ventos): Não acredite em nada sem questionar, busque fontes e experimente. Um bruxo não se deixa iludir e não tem medo da mudança. Quem segue a Arte Sábia deve estar sempre pronto para expandir sua visão e aprofundar sua compreensão das coisas.

(Dinho Oliveira / Círculo das Bruxas): A coisa mais difícil não vai ser lançar um círculo ou aprender a ver do outro lado do véu. A parte mais difícil será lidar com pessoas que deveriam lhe ajudar nesse caminho e tentarão lhe derrubar a qualquer custo. 

(Cazmilian Zórdic / Heremiticam): Não acredite em algo só porque alguém diz, nem em mim, nem em Buda. Questione. Vá atrás de ver com os seus olhos. Estudo e treino são fundamentais, mas questione. Magia é algo forte demais para começar direto na prática sem saber o que esperar, mas os escritos de outras pessoas são os escritos de outras pessoas. Questione.




A maior força da bruxaria está em sua marginalidade!



(Diego King / Morte Súbita): A maior força da bruxaria está na sua marginalidade. O culto das Bruxas nunca teve instituição e talvez por isso, que viva de forma tão subversiva e tão entusiasta. O Deus de Chifres não aceita regras. 

Para uns, ele é o próprio Diabo. Para outros, a representação pagã de deuses celtas. Entre um extremo e outro percebemos que para fortalecer a bruxaria não podemos tirar a herança que ela nos trouxe. A Bruxaria não é nem de longe um culto feito a luz do dia. Ela é feita solitariamente, a noite, aonde poucos praticantes se reúnem e então liberam suas forças para torcer a realidade. A bruxaria por faltar tradução exata para o que é ou não é, ganha apenas alguns aspectos que realmente a traduzem: o culto a natureza, o respeito a vida e acima de tudo: o segredo. 

O Segredo foi o que manteve viva a tradição das bruxas. Segredo é diferente de Tolice, aonde faz muito mistério para pouca coisa; segredo se baseia em falar subliminarmente, aonde de acordo com a inteligência do ouvinte, a bruxa estará revelando ou velando sua magia. A fala ambígua assim como a Lua são partes essenciais da alma da Bruxa. Ela é a própria bruxa. O melhor meio de se adentrar nesses mistérios é conhecendo uma pessoa que já está. Felizmente, hoje em dia é muito mais fácil conhecer pessoas, mestres, gurus e afins do que há vinte anos atrás´. Isso também faz com que, você encontre falsos gurus também, porem, aprender a reconhece-los é o primeiro passo para qualquer pessoa que deseja sucesso nas ciências ocultas. Muitas vezes, para alguém que realmente pratique bruxaria, perceberá que os praticantes mais sérios são aqueles que se escondem, não aqueles que procuram um palco. Obviamente que tudo isso é um conselho bobo: você encontrará em seu caminho diversas manifestações da bruxaria e diversos praticantes e nem todos tão discretos assim. Toda regra tem sua exceção, exceto uma única regra: fuja de quem deseja podar sua liberdade. Na natureza, a liberdade é a lei. 



Gostou da entrevista? Faltou alguma coisa? Quer mais posts como esse? Comente! Compartilhe! Curta! Seu feedback é muito importante para nós.

Manifestação, Representatividade e Crucificação na Parada Gay 2015: Jesus Sorriu

15:17

10 Sabendo que fora por inveja que os chefes dos sacerdotes lhe haviam entregado Jesus.
11 Mas os chefes dos sacerdotes incitaram a multidão a pedir que Pilatos, ao contrário, soltasse Barrabás.
12 "Então, que farei com aquele a quem vocês chamam rei dos judeus?", perguntou-lhes Pilatos.
13 "Crucifica-o!", gritaram eles.
14 "Por quê? Que crime ele cometeu?", perguntou Pilatos. Mas eles gritavam ainda mais: "Crucifica-o!"



Manifestação artística de Viviany Beleboni | Foto: Reprodução/Facebook
Texto: Yule Travalon | Da Fruta Que Você Gosta
Revisão: Pedro Maia | Pensamentos Compulsivos

Nesse último domingo (7 de junho de 2015), ocorreu a 19ª edição da Parada do Orgulho LGBT em São Paulo. Com o tema “eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim: respeite-me”, a Parada reuniu milhares de pessoas na Avenida Paulista. Vários portais de notícias divulgaram fotos e entrevistas dos que estiveram presentes no evento, mas uma manifestação artística em especial tomou conta da timeline do facebook hoje (8 de junho). Todos estão falando da manifestação artística de uma mulher crucificada com os dizeres “BASTA HOMOFOBIA GLBT”.

As críticas que provém de pastores e seus seguidores seguem a linha: “estão usando o meu Jesus”, “isso é blasfêmia”, “cristofobia”, “isso é uma ofensa, ultraje”! A mulher crucificada chocou, não foi? Então tenho uma novidade para vocês: era para chocar mesmo. Protesto não se faz com camisa de seleção, selfie ou levando a babá para cuidar dos filhos no meio da multidão. Protesto é sobre indignação, sobre insatisfação, sobre ter um grito preso na garganta e precisar externá-lo.

Não se faz protesto sem chocar.

Crucificação, Jesus & o Poder Simbólico


A crucificação era um método que reunia tortura e execução, utilizado na antiguidade na Pérsia, Cartago, Roma. Uma rápida olhada na Wikipédia sobre o assunto, vemos o processo da crucificação: o criminoso era despido de suas vestes, seguia-se o flagelo, pregos nos punhos e nos pés, açoitamento, humilhação. Depois a cruz – onde o indivíduo havia sido pregado – era apenas erguida e o peso do corpo da pessoa fazia o restante do trabalho. Horrendo, né?

Para os romanos, morrer na cruz era uma grande humilhação, os romanos tinham horror àquilo. Afinal de contas, quem morria na cruz? O mercador? O centurião? O prefeito do pretório? Um médico? Não. Apenas bandidos, criminosos, revolucionários políticos, ou seja, os subversivos.

Os relatos bíblicos sobre a morte de Jesus mostram quanta dor aquele homem-divino sofreu. Dor, humilhação e sofrimento que foram suportados, segundo os relatos, para morrer por todos. Mas eu tenho algumas novidades para vocês: o relato de Jesus, apenas ilustra como era a crucificação. Os criminosos que morreram ao lado dele, morreram da mesma forma, assim como todos os outros que vieram antes e depois de sua crucificação. Entretanto, apenas a crucificação do Cristo histórico comoveu. Ainda que para Roma, Jesus tenha morrido como criminoso e subversivo político, ou seja, contra as leis da maioria. Mas para um grupo em específico (seus seguidores), que viram seu mestre em meio a centenas de homens crucificados, apenas tiveram olhos para um. 

Por que aquilo foi chocante e perturbador, afinal, ver o seu mestre ser humilhado e torturado gerou indignação e descontentamento. Mas esses discípulos Ignoraram centenas de homens morrendo naquele dia, ao lado de seu mestre, para olhar para apenas um dos homens subversivos. Posteriormente, tomaram o símbolo da cruz como grande símbolo de seu ideal que até certo momento era subversivo, ou seja, contra as posturas de Roma. Isso, é claro, até que o cristianismo se tornasse situação em Roma.

O que quero dizer é: Jesus morreu na cruz. Assim como centenas de outros bandidos, criminosos e revolucionários (subversivos a ordem vigente). A cruz é um símbolo. Um símbolo sobre ser despido de quem é, ser humilhado, torturado e deixado ao léu para morrer, para aprender e servir de lição aos demais, e expor que a ordem social deve ser mantida.

Afinal, quem é o bandido, o criminoso e o revolucionário? O subversivo. Aquele que “não está pronto para viver na sociedade”, “aquele que infringe as regras impostas na sociedade”, “aquele que está insatisfeito com sua posição dentro da sociedade”. Sinto dizer a vocês, mas Jesus era assim. Ele estava insatisfeito. Ou o relato de João 2:13 em diante, não lhe diz nada? Jesus fez um chicote e desceu o cacete na galera que estava vendendo coisas no templo de Jerusalém. Por que não se indignam hoje com as palavras “Parai de fazer da casa de meu pai um mercado” (João 2:16)?

Não foi o mesmo Jesus que andou entre leprosos, prostitutas e cobradores de impostos e falava de perdão, amor e compaixão ao invés de destruição, morte e condenação?

O poder simbólico da crucificação carrega a ideia de: morrer por ser subversivo. Morrer por não se adequar pelo que é imposto na sociedade. Morrer/ser mártir de um ideal. Estou dizendo que bandidos e criminosos devam virar mártir? Não. Mas o próprio Jesus morreu como um criminoso e se tornou mártir em sua época. Hoje, os tempos são diferentes. Não são apenas os criminosos, bandidos e revolucionários que são subversivos.


Subversão, Manifestação e Eu Sorri


21 séculos após o nascimento de Jesus, numa terra chamada Brasil, existem outros protagonistas sociais que são subversivos. Numa sociedade que pagou para o branco europeu vir colonizar, o negro escravo que hoje é livre e pode ocupar cargos altos, é um perigo. Numa sociedade patriarcal e machista onde o homem é o cabeça e chefe de todas as coisas, uma mulher independente é mais que um perigo. Numa sociedade heteronormativa que dita as regras de como o homem deve ser, como deve se portar, com quem deve se relacionar e no que acreditar, um gay, uma travesti ou uma transexual, uma lésbica, é muito, mas muito mais que um perigo.

Novamente recorramos à Wikipédia e vejamos o que ela fala de subversão: “é um tipo de oposição sutil e prolongada”. Oposição a quê? A quem as pessoas vistas e chamadas de subversivas se opõe? À fé cristã? Jamais. A fé pertence a cada um e cada um precisa ter direito e dever de exercê-la livremente. Entretanto, esse direito e dever não pode se encaixar em controlar outras vidas em nome da sua fé. Aquilo que você acredita pertence a você e você deve viver em perfeito amor e harmonia. Mas obrigar o outro a agir dentro dos parâmetros da sua fé é sair do perfeito amor e perfeita harmonia com isso.

Em um país, que reza a lenda que é laico, colonizado por cristãos, fundado por cristãos, estruturado por cristãos e com crucifixos em locais públicos, pode ser difícil entender essa oposição, subversão, ou como prefiro chamar manifestação artística feita pela mulher Viviany em uma Parada de Orgulho LGBT.

Quando olhei para a foto hoje pela tarde, sorri. Um sorriso de quem pensa: é isso! A mensagem de Viviany não é como a mensagem de Jesus, que era direta, objetiva e concisa: amar o próximo como a ti mesmo, saber perdoar, ter compaixão. Afinal, no mundo Romano completamente belicoso e em guerra, o que era mais subversivo do que a paz? Dizer que a paz era o caminho certo, o amor pelo próximo era o ideal para que todos pudessem viver bem? Então foi por isso que eu sorri, por que a manifestação de Viviany é um grito de paz, amor e compaixão, transcrito como “basta homofobia glbt”, que se você for reparar bem, quando morrem – e eles morrem todos os dias –, morrem como criminosos. Não há compaixão, não há amor, não há paz. Morrem como escória, morrem como lixo, morrem do teu lado na rua e você sequer se indigna de fechar os olhos do cadáver. Não. Você passa direto, finge que não vê, ignora. Isso, é claro, quando não tenta silenciar o grito de Viviany e diz que ela está blasfemando.

Blasfemando contra o quê? Não foi Jesus quem morreu na cruz ao lado de centenas de outros homens, também chamados e vistos como bandidos e criminosos? Jesus, diferente dos demais, teve a oportunidade de após a morte, ter recebido honras e ser sepultado e lembrado. Mas quem dentre vós se lembra dos homossexuais brutalmente assassinados no Brasil ano passado e este ano? Fui dar uma googleada e não me apareceu nome de ninguém! N i n g u é m!

Como podem amar, lembrar e adorar um homem que morreu há 21 séculos e que é invisível, sendo que não podem amar, sentir compaixão e mostrar caridade pelos jovens que morrem em seu próprio país, tem corpo, nome e são deixados despidos na rua, após serem brutalmente humilhados, agredidos e assassinados? Não era sobre isso o que Jesus dizia? O que é amar o próximo como a ti mesmo, senão, compadecer, amar e saber aceitar o outro pelo que ele é?

Viviany, se você ler esse texto, saiba que quando vi sua manifestação, eu sorri.

Mas eu não sorri em deboche, não. Eu não sorri em achar engraçado, muito menos. Eu sorri porque pela primeira vez em dois anos, a sua manifestação artística me fez gritar de raiva e me deu forças para escrever esse texto. Eu me calei tantas vezes quando vi injustiças, porque não tinha mais forças para lutar, não tinha mais forças para debater, porque quando você diz: respeite, por favor, você escuta em resposta: “Deus vai te matar! Deus vai te destruir! Você está condenado a punição”! Então, numa tarde de segunda-feira, enquanto descia a timeline do facebook impacientemente, eu sorri. Por que sua foto está em todos os lugares possíveis!!! Sua manifestação é uma reflexão que vai além do que eu poderia escrever e que você sintetizou em “basta homofobia glbt”, mas os alfabetizados do Brasil não conseguiram ler o texto exposto. Como poderiam entender uma mulher numa cruz numa parada gay?

Viviany, saiba que eu sorri.

Produto, Provocações e Invariantes do Discurso Político


Algumas manifestações que li em minha timeline não eram positivas ao ato de Viviany, alguns compartilharam textos e vídeos de pastores influentes em seu meio, que produziram discursos contra o ato da mulher crucificada na parada do orgulho LGBT. Algumas delas, já citei. Outras falavam coisas como: “não podem fazer isso com Jesus”, “como podem fazer isso com meu símbolo sagrado”?

Jesus não é um produto. Vocês não patentearam, ele não é uma marca, ele não é apenas um nome para colocar em perfumes, bíblias, folhetos, vassouras, terrenos no céu e vender. Ele é muito mais que isso. Ele é também um símbolo e um personagem histórico. Ele não morreu apenas por você que acredita nele e diz seguir seus ensinamentos, mesmo ignorando a parte do ‘amar ao próximo como a ti mesmo’. Jesus não morreu por todos? Então ele morreu inclusive por quem não acredita nele, ainda mais, por quem nasceu gay.

Quero provoca-los agora, com algo visceral. Levando em consideração que Jesus ia a todo lugar levar sua palavra e manifestar seu amor e apoio, tendo ele andando com leprosos, prostitutas e cobradores de impostos, é tão difícil imaginar que se ele estivesse vivo, não estaria na Parada gay, apoiando a causa? Ou ele estaria agora em redes sociais disseminando ódio gratuito, coisa que nunca fez?

O professor Ciro Flamarion Cardoso escreveu um texto (notas de aula) chamado Invariantes do Discurso Político, que inclusive, utilizo para meu trabalho monográfico em história. Cardoso coloca que os discursos políticos buscam quatro coisas: tornar transparente a realidade social, autolegitimar-se, pretensão em gerir o social e construir uma identidade coletiva. E eu vi isso nos discursos produzidos por Malafaia e Feliciano.

Ambos, em seus discursos, querem transparecer uma realidade social e manuseá-la ao seu favor: colocam Jesus como objeto que pertence a eles e apenas a eles. Criticam a manifestação de Viviany porque a realidade que eles querem transparecer para os que ouvirão/lerão seus discursos, deixa claro: ela [Viviany] quer zombar, blasfemar e fazer chacota com a imagem do Jesus que eles pregam – o que não é verdade.

Em segundo lugar, eles autolegitimam-se. Em um vídeo, Feliciano diz: “onde estão as autoridades cristãs? A autoridade da igreja batista, universal, assembleia de Deus, igreja católica, etc”? Como se apenas eles pudessem utilizar a figura de Jesus e falar de Jesus, ou seja, autolegitimam-se como portadores e donos dos direitos autorais dessa figura histórica do homem-divino.

Então, pretendem gerir o social: “denunciem! Espalhem! Mostrem que são contra isso”! Feliciano diz no vídeo e ainda propõe a forma correta de lidar com Jesus: a dele. Um Jesus que na visão dele, jamais aceitaria estar novamente entre as minorias, os subversivos, os criminosos sociais.

E por que não, criar uma identidade coletiva? “Se você é cristão, manifeste-se contra isso”, como se ser cristão significasse odiar as minorias e o diferente – que é, afinal, a imagem que é tão vinculada hoje em dia e nós sabemos que não é assim. Nem todo cristão é fundamentalista, intolerante e abusivo em suas palavras.

Enfim, o discurso político apresentado pelas autoridades cristãs pretendem sim transparecer uma realidade social [deles], autolegitimação de uso de marca, pretendem gerir o social dizendo às pessoas o que fazer e ainda forjam uma identidade coletiva que vai contra as próprias palavras de Jesus. Eu particularmente nunca vi esses e outros homens de Deus pregando o amor ao próximo, mas ouço-o eles falarem da punição, do inferno, do diabo, do pecado, da sodomia como se só houvesse isso em seu vocabulário. Isso é transparecer a realidade ou manipular a realidade e os fatos ao favor do seu discurso político? Uma lida em Cardoso ajudaria muito.

Crucifica-o!!!


A minha crença particular não me faz adorar a Jesus, mas eu vejo Jesus em muitos lugares. Por que pra mim – que tiro o ar religioso do homem-divino –, o vejo como subversivo, guerreiro, um homem que se opunha a um sistema firmemente, seja com suas palavras, com um chicote improvisado ou ao olhar para seus agressores e em vez de revidar, dizer: “pai, perdoai, eles não sabem o que fazem”.

Mas nessa ocasião, lembrei do evangelho de Marcos, no capítulo 15. Por ocasião da páscoa, um protagonista social subversivo (chamemos assim, para não chamar Jesus de criminoso e não ofender geral, né?), era liberado da prisão e crucificação e outro era condenado. Duas escolhas foram apresentadas: Barrabás e Jesus, o nazareno. Pilatos perguntou: Barrabás ou Jesus? A multidão, a maioria, o povo todo reunido (os que aceitavam as imposições da lei e se consideravam homens justos e dignos), gritou: Barrabás!!! Pilatos pigarreou, e perguntou: “Mas que crimes o Nazareno cometeu”? Ao que responderam: “Crucifica-o”!!!! E Pilatos deve ter, no mínimo, perguntado uma segunda vez: “Mas porque deveria eu executá-lo”? Ao que o povo, ignorando a pergunta, afinal, só queriam ver a chacina e não argumentar contra ou a favor de Barrabás, só tinha uma única palavra de ordem: “Crucifica-o”!!!

Imagino, em minha mente fértil, que Pilatos andou até Jesus, chegou bem na encolha no ouvido dele e disse: “Foi por esse povo que você se tornou subversivo? Foi para esse povo que você ensinou amor, compaixão e piedade”?

Sabe o que eu sinceramente acho que Jesus respondeu? Ele deve ter sorrido.

Pós-Script


Os cristãos costumam dizer que um dia, so far far away, Jesus Cristo, seu senhor e rei subversivo, irá retornar. Eu particularmente acredito que ele já retornou... E que já mataram ele de novo.

FOLLOW @ INSTAGRAM

About Us

Recent

Random