O que é a Bruxaria?

Fest der faune und Nymphen de Moritz Stifter


Diariamente na página Bruxaria Hipster, recebemos perguntas como: "o que é magia? Como me iniciar? O que ler? Qual o melhor caminho"? Pensei em escrever um post sobre isso, mas então tive uma ideia melhor: 'entrevistei' cinco bruxos experientes que estimo muito, para que  respondessem algumas questões e pedi autorização para colocar aqui no blog. Os nomes deles estarão entre parenteses em cada resposta, junto com o link para suas páginas/blogs.



- O que é a bruxaria?


(Odir / Sono de Endimião): Historicamente falando, a Bruxaria pode ser definida como um conjunto de crenças e práticas que sempre estiveram à margem das religiões “oficiais”. A bruxa foi a desvirtuadora, a transgressora, a adaptadora. Ela sempre trabalhou com as ferramentas que tinha às mãos, para além da ortodoxia religiosa vigente. Vejamos o caso que nos é mais familiar: a benzedeira católica. A benzedeira, mesmo considerando-se católica, desvirtua a prática oficial da Igreja. Seu ofício é curar e transformar – e algumas vezes amaldiçoar – e faz isso sem recorrer ao sacerdote “oficial” da religião vigente: o padre. Ela sincretiza em seu ofício cristianismo e paganismo, e muitas vezes alcança aquilo que o sacerdote não consegue acessar pelas vias comumente aceitas. Essa figura emblemática pode ser encontrada (na sua pluralidade de formas) em praticamente todas as sociedades ao longo da história. Onde houver uma doutrina “oficial” que realiza seu ofício à luz do dia, haverá também as bruxas que, na calada da noite, encontram-se para desvirtuar essas crenças e práticas “autorizadas”. É por isso que as bruxas são tradicionalmente associadas à noite, à lua, à escuridão, às divindades ctônicas (do Submundo), etc. 

Acontece que nos anos 50, a bruxaria “institucionalizou-se” através da religião Wicca. Gerald Gardner achou que a bruxaria era uma religião que estava fragmentando-se e precisava ser “restaurada” e foi assim que ele construiu a Wicca. No entanto, de forma paralela (e de certa forma oposta), temos a figura de Robert Cochrane que, contemporâneo de Gardner, achava que a bruxaria não era uma religião, mas sim uma tradição filosófica ou gnoseológica que perpassava todas as religiões.

Mas tentando responder a sua pergunta formulando um conceito, eu diria que hoje, a bruxaria pode ser tanto uma coisa quanto outra: pode ser uma forma de religião, de religiosidade ou de espiritualidade que visa colocar o indivíduo em sincronia com a natureza e e com os seus Ancestrais através de práticas mágicas.

(Maurício Melo / Conclave Rosa dos Ventos): A bruxaria é um conjunto de práticas que rege a transformação, o ofício dos que são dotados da irreverência e da sensibilidade. Um bruxo não se define, pois isso o limitaria. A Arte Sábia é viva, fluída, mutável e atemporal em sua essência.

(Dinho Oliveira / Círculo das Bruxas): Uma ciência, uma arte e uma religião.

(Cazmilian Zórdic / Heremiticam): Bruxaria/Magia pra mim é uma ciência. Ela se reconstrói, se adapta... vamos dizer que é a ciência de mudar a Realidade e não há nada de fantasioso nessa ciência.


 

- Qual a melhor forma de conhecê-la?


(Odir / Sono de Endimião): Primeiramente através do estudo (teoria). E depois disso, obviamente, através da prática. Acho sempre importante estar sempre dispostx a aprender, a conhecer e a experimentar diferentes coisas. Você encontrará bruxos dos mais variados tipos, de inclinações políticas e filosóficas e de estilos de vida. O segredo é sempre estar disponível para aprender sobre esses diversos caminhos, sem apegar-se a preconceitos que limitem esse aprendizado. Fora isso, tudo é uma questão de sempre estar abastecido de velas e incensos e livros (não necessariamente nessa ordem): a bruxaria é uma Jornada que não tem fim, pois é uma estrada em formato de círculo. O Mistério é que, apesar de sempre voltar ao ponto de partida, você nunca volta da mesma forma.

(Maurício Melo / Conclave Rosa dos Ventos): Não creio que haja uma forma melhor ou pior, a Arte Sábia toca de forma diferente o âmago de cada um. Sempre na hora certa, no local exato e de um jeito único.


(Dinho Oliveira / Círculo das Bruxas): Comece se conhecendo. As outras portas irão se abrindo conforme for necessário.

(Cazmilian Zórdic / Heremiticam): Existindo. Cada vida por si só ja é derivada de Magia, uma vez que o Hermetismo que sigo considera todo ser vivo como parte de Deus, apenas individualizado momentaneamente pra entender a si mesmo e evoluir. Então, o principal todo mundo ja fez. O resto é estudo e treino, MUITO TREINO.




- Quais os livros mais indicados?


(Odir / Sono de Endimião): Olha, existe muita coisa por aí, mas eu sempre gosto de indicar, pra quem está começando, o livro do ex-bruxo-atual-evangélico (sic!) Millennium, Wicca: A Bruxaria saindo das Sombras porque foge do lugar-comum de vários livros de Wicca de autores “populares” do Brasil. Nesse caminho gosto também de A Feitiçaria: A Tradição Renovada de Doreen Valiente e Evan John Jones por mostrar algo um pouquinho (mas não muito) diferente da Wicca. Quem estiver interessado em aprofundar-se mais, eu indico também o Artes da Noite: Uma História da Prática da Bruxaria do Nicholaj de Mattos Frisvold que é uma leitura um pouco mais avançada, e por isso, bastante densa. Esses dois primeiros têm disponível em pdf na biblioteca do meu blog.

(Maurício Melo / Conclave Rosa dos Ventos): Artes da Noite de Nicholaj de Mattos Frisvold, O Chamado dos Velhos Deuses de Nigel Jackson, Magia Natural de Scott Cunningham, Desvendando a Arte dos Feitiços de Gerina Dunwich e Três Livros de Filosofia Oculta do Agrippa.


(Dinho Oliveira / Círculo das Bruxas): Para quem está começando, sem sombra de dúvida A Bruxa Solitária, da Rae Beth e O Poder da Bruxa, da Laurie Cabot. Outros dois bem bacanas são O templo interior da bruxaria, do Christopher Penczack (tem uma coleção ótima) e Bruxaria, Teoria e Prática, da Ly de Angeles, ambos são excelentes guias de treinamento.


(Cazmilian Zórdic / Heremiticam): Sem dúvida nenhuma, Toda a obra de Franz Bardon, além de outros como Dogma e Ritual de Alta Magia (do Eliphas Levi, chatinho de ler mas bem interessante) e obras de suposta fantasia que guardam muitas verdades nelas, como as obras de Tolkien. 





- Você poderia dar uma dica para quem está chegando nesse caminho agora?


(Odir / Sono de Endimião): O instinto natural de toda pessoa que está começando a estudar é juntar-se a um Coven, a um Círculo, a um grupo qualquer. E essa necessidade pode ter por base o simples desejo de “ser aceito”, mas com o tempo, essa busca incessante por grupos, Ordens e Tradições de todos os tipos podem se transformar em uma sede de querer aparecer e de prestar contas para a comunidade mostrando “currículo” de formações e de iniciações acumuladas. Eu sempre desencorajo esse desejo entre o pessoal que está chegando, acho isso muito prejudicial. Acho que o começo da jornada espiritual de alguém na Bruxaria deve ser, como disse acima, uma época de experimentar, de conhecer, de desbravar, de aprender e de descobrir. Filiar-se a Ordens ou Covens é algo legal (eu mesmo tenho um Coven), mas acho que isso não deve ser um fim em si do Caminho. Filiar-se a uma Tradição não deve ser um objetivo a ser alcançado, essas coisas devem ser consequência natural do processo. Fuja dos “Mestres” de facebook, fuja daqueles que estão sempre nos holofotes da mídia, dos que ostentam “currículo” e – principalmente – não tome partido nos barracos virtuais e nas fofocas de grupos A, B ou C. Isso é desperdício de energia. Converse com TODAS essas pessoas, questione e pergunte, mas sempre com humildade e não tome nenhuma delas como senhorxs absolutos da verdade. Até mesmo porque verdades absolutas não existem. 

(Maurício Melo / Conclave Rosa dos Ventos): Não acredite em nada sem questionar, busque fontes e experimente. Um bruxo não se deixa iludir e não tem medo da mudança. Quem segue a Arte Sábia deve estar sempre pronto para expandir sua visão e aprofundar sua compreensão das coisas.

(Dinho Oliveira / Círculo das Bruxas): A coisa mais difícil não vai ser lançar um círculo ou aprender a ver do outro lado do véu. A parte mais difícil será lidar com pessoas que deveriam lhe ajudar nesse caminho e tentarão lhe derrubar a qualquer custo. 

(Cazmilian Zórdic / Heremiticam): Não acredite em algo só porque alguém diz, nem em mim, nem em Buda. Questione. Vá atrás de ver com os seus olhos. Estudo e treino são fundamentais, mas questione. Magia é algo forte demais para começar direto na prática sem saber o que esperar, mas os escritos de outras pessoas são os escritos de outras pessoas. Questione.




A maior força da bruxaria está em sua marginalidade!



(Diego King / Morte Súbita): A maior força da bruxaria está na sua marginalidade. O culto das Bruxas nunca teve instituição e talvez por isso, que viva de forma tão subversiva e tão entusiasta. O Deus de Chifres não aceita regras. 

Para uns, ele é o próprio Diabo. Para outros, a representação pagã de deuses celtas. Entre um extremo e outro percebemos que para fortalecer a bruxaria não podemos tirar a herança que ela nos trouxe. A Bruxaria não é nem de longe um culto feito a luz do dia. Ela é feita solitariamente, a noite, aonde poucos praticantes se reúnem e então liberam suas forças para torcer a realidade. A bruxaria por faltar tradução exata para o que é ou não é, ganha apenas alguns aspectos que realmente a traduzem: o culto a natureza, o respeito a vida e acima de tudo: o segredo. 

O Segredo foi o que manteve viva a tradição das bruxas. Segredo é diferente de Tolice, aonde faz muito mistério para pouca coisa; segredo se baseia em falar subliminarmente, aonde de acordo com a inteligência do ouvinte, a bruxa estará revelando ou velando sua magia. A fala ambígua assim como a Lua são partes essenciais da alma da Bruxa. Ela é a própria bruxa. O melhor meio de se adentrar nesses mistérios é conhecendo uma pessoa que já está. Felizmente, hoje em dia é muito mais fácil conhecer pessoas, mestres, gurus e afins do que há vinte anos atrás´. Isso também faz com que, você encontre falsos gurus também, porem, aprender a reconhece-los é o primeiro passo para qualquer pessoa que deseja sucesso nas ciências ocultas. Muitas vezes, para alguém que realmente pratique bruxaria, perceberá que os praticantes mais sérios são aqueles que se escondem, não aqueles que procuram um palco. Obviamente que tudo isso é um conselho bobo: você encontrará em seu caminho diversas manifestações da bruxaria e diversos praticantes e nem todos tão discretos assim. Toda regra tem sua exceção, exceto uma única regra: fuja de quem deseja podar sua liberdade. Na natureza, a liberdade é a lei. 



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